COP 30 - Contra Manaus ou Belém, o preconceito é o mesmo.
- Serafim Corrêa
- 30 de ago.
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Por Serafim Corrêa
Quando a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), o braço da ONU que cuida das mudanças climáticas, decidiu fazer a COP 30 em Belém, todos sabiam a realidade da Amazônia. Aqui é quente, chove muito, afinal, estamos acima da Linha do Equador, portanto numa região tropical. E as cidades amazônicas não tinham uma estrutura básica, por exemplo, de hotelaria que abrigasse com o conforto europeu ou americano. A meu ver, foi exatamente por isso que a COP 30 será na Amazônia: para o mundo sentir o que é viver na Amazônia.
No entanto, no dia seguinte à escolha, começaram os ataques, em especial do sul e sudeste, contra a sede da COP 30 ser em Belém. Os contrários bradaram: “melhor seria no Rio, São Paulo ou Belo Horizonte”. E de lá para cá os ataques de todas as ordens só aumentaram. Deixou de ser discordância para ser ódio contra a região.
Isso me fez relembrar a Copa do Mundo de 2014, quando Manaus foi uma das sedes. Logo após a decisão que incluiu nossa capital dentre as cidades escolhidas começou a ladainha: “Manaus não tem estádio, nem rede hoteleira capaz de receber os turistas”, “Se começar a fazer agora, não vai dar tempo”, "Manaus não tem futebol e fica muito longe”.
Ainda devemos uma homenagem ao Aldo Rebelo, Ministro dos Esportes, que nos defendeu como se fosse um filho de Ajuricaba. E foi linchado pela imprensa do Rio e São Paulo.
Fica claro que o preconceito contra a COP 30 em Belém é o mesmo quando da Copa do Mundo em Manaus. Registro que isso não é de hoje e relembro um fato da maior relevância para entendermos essa situação e a nossa história.
O sonho da juventude secundarista de Manaus na década de 1960 era a refundação a Universidade Federal do Amazonas. É mérito do então deputado federal Arthur Virgílio Filho (pai do ex-prefeito de Manaus por três vezes Arthur Virgílio Neto) ter apresentado o projeto que transformaria em realidade aquele nosso anseio. Teve ao seu lado na luta parlamentar o nosso estimado Almino Afonso, também deputado federal. A oposição ao projeto veio das bancadas do sudeste com argumentos que mostram que o preconceito contra a Amazônia vem de longe. Diziam eles: “Pra que uma Universidade numa cidade que não tem professores, nem alunos?”, “Para a Amazônia basta a Universidade do Pará (criada em 1957)”. A luta de Arthur e Almino foi em frente e a Universidade do Amazonas foi recriada em 1962 pela Lei n.º 4069-A, de 12 de junho, sancionada pelo presidente Jango e pelo 1º Ministro Tancredo Neves (lembrem-se que o Brasil nessa data era parlamentarista).
Portanto, o preconceito contra Belém ou Manaus é o mesmo e vem de longe. Afinal, somos todos filhos do Grão-Pará e Rio Negro.
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